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Este livro oferece uma interpretação acerca da noção nietzschiana da transvaloração dos valores, por meio da elucidação das relações belicosas entre a filosofia de Nietzsche e as cosmovisões da filosofia platônica e da religião cristã (tradições basilares na formação moral do Ocidente). Além dos escritos de Nietzsche, o autor se debruçou sobre os diálogos platônicos e os textos bíblicos.
Tendo como recorte preciso certa produção da intelligentsia brasileira, Nietzsche no Brasil (1922-1945): Modernistas e Intérpretes do País, de Geraldo Dias, analisa de forma precisa a recepção da filosofia nietzschiana nesse período, de 1922 a 1945, trazendo à luz um aspecto para o qual poucos pesquisadores atentam. Na literatura, modernistas como Mário de Andrade e Manuel Bandeira, bem estudados no livro, e no registro ensaístico-sociológico, sobretudo Paulo Prado, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, teriam recorrido ao pensamento de Nietzsche, em maior ou menor escala, nas suas produções. Eis a originalidade e a pertinência desse trabalho de recepção filosófica. ...
O tema "Nietzsche: 'intérpretes e interpretações'" faz referência direta à especificidade dos textos de Nietzsche enquanto impossibilitam estabelecer a verdade iniludível de cada proposição, do mesmo modo que favorecem a multiplicidade de interpretações. Isso se deve à característica e à singularidade de um tipo de texto que se pode reconhecer na abertura irredutível expressa na proposição de perspectivas que suscita, ao mesmo tempo, possibilidades de variadas leituras. O texto nietzschiano permite uma diversidade de possibilidades em termos de interpretação, pois não formula proposições inequívocas, cujo corolário seria evidente, mas se apresenta como algo a ser decifrado. Esse decifrar não implica, no caso, o estabelecimento de elementos precisos, mas da construção de elementos possíveis que incessantemente podem vir-a-ser no domínio do texto, requerendo um exercício de experimentação em que cada elemento encontrado abre novas possibilidades de combinação, no sentido do interpretar e, portanto, da experimentação que se realiza com o próprio pensar.
Considerando a importância de Scarlett Marton na pesquisa e na formação em filosofia, notadamente a de Nietzsche, este livro visa a homenagear a professora a partir de leituras que tomam por base a interpretação da obra do pensador alemão por ela introduzida em variados livros, desde Nietzsche, das forças cósmicas aos valores humanos, que teve sua primeira edição em 1990, até Nietzsche, o "Bom Europeu" e Nietzsche e as mulheres, publicados em 2022. Professora titular da USP, Scarlett Marton dedicou-se à pesquisa e à formação, à arte de compreender tanto os textos quanto o mundo circundante. Os sentidos da formação procuram mostrar como a intérprete de Nietzsche compreende ...
Este livro visa oferecer ao leitor não especialista um pequeno apanhado conceitual do pensamento nietzscheano. Nesse sentido, seu objetivo é apresentar os temas centrais da Filosofia de Nietzsche distribuídos em 10 lições introdutórias. Cada uma delas versa sobre uma noção específica como, por exemplo: a morte de Deus, a vontade de potência e a doutrina do eterno retorno, buscando fornecer ao leitor um instrumental teórico que venha capacitá-lo a compreender as questões-chave de Nietzsche.
Nas últimas décadas, têm sido examina- das lógicas do tráfico atlântico, padrões de posse e políticas de domínio para entender a formação das famílias escravas. Emergiram, sobretudo, projetos, esperanças e recordações das comunidades de senzala. Este estudo de LORENA TELLES amplifica esta tradição historiográfica, apresentando questões originais. Cotejando fontes diversas, ela adentra senzalas para localizar mulheres escravizadas, maternidades refeitas e corpos femininos redefinidos. Por meio de uma pesquisa primorosa, somos conduzidos a diversas aventuras, entre os ambientes dos partos, das alegrias, das dores, dos sofrimentos, dos choros de bebês recém-nascidos, das expectativas senhoriais, dos temores das crianças que poderiam ser abandonadas, dos saberes médicos, das terapias, das mortalidades infantis e das redes comunitárias em torno das senzalas.
Este livro é resultado de uma minuciosa aplicação dos métodos etnográficos a múltiplas áreas de pesquisa, reunidos num mesmo fio de análise por uma metodologia rigorosa e criativa. Com sensibilidade e vasto conhecimento do fenômeno religioso no Brasil, a autora produziu uma radiografia do movimento evangélico no contexto de intensa mobilidade humana das regiões de fronteira, sobretudo a partir das trajetórias dos pregadores evangelistas. Num momento em que a participação dos evangélicos na política parece reforçar o obscurantismo e as pautas conservadoras, Véronique Boyer mostra-se capaz de escutar as pessoas comuns, iluminando as razões desse povo evangélico que, na base da pirâmide, já contava em 2010 cerca de 43 milhões de brasileiros. Ignorá-los por força de estereótipos seria desastroso para um verdadeiro projeto de inclusão social. Roberto Araújo Santos (Coordenação de Ciências Humanas – Museu Paraense Emílio Goeldi)
Fernando Kinker convida à reflexão sobre a "emergência de novas formas de sociabilidade [...] que parte [...] da desconstrução de elementos da sociabilidade moderna centrada no trabalho e na mercadoria, e da crítica ao paradigma psiquiátrico", com base no percurso, de 1989 a 1996, do Núcleo do Trabalho da experiência santista de saúde mental. [...]. O autor propõe pensar junto, sintonizar e mesmo discordar, como buscou, ao pesquisar e escrever, "um dialogismo múltiplo, uma conversa infinita"; ancorado na cartografia e saber da experiência e no exercício da razão aberta, dialoga em um campo teórico denso – desinstitucionalização, complexidade, trabalho e sociabilidade –,...
O livro A Condição Vulnerável: A Perda do Sentimento de Existir aborda a questão da vulnerabilidade em três ensaios que se articulam com profundidade, sem jamais ignorar suas singularidades. A análise debruça-se, inicialmente, sobre a frieza e a indiferença instituída como modus vivendi e de forma multifacetada na lógica numérica e instrumental prevalente nas sociedades neoliberais contemporâneas. Em seguida, nos conduz pelas sequências de uma obra fílmica, nas quais a condição vulnerável é vista por meio da encenação de certos valores dessa sociedade, articulando a relação entre a violência dos sistemas institucionais e a maneira como o protagonista lida com ela, de sorte que a vulnerabilidade se torna signo de dignidade. Ultrapassando a perspectiva histórica e sociológica, nos leva, por fim, a vislumbrar essa precariedade como elemento ontológico e fundador da condição humana.
Invenção recente, pois não tem muito mais de dois séculos, a prisão tornou-se em todo o mundo a pena de referência. Como compreender o lugar que ela ocupa em nossas sociedades? E como a vivenciam os que nela estão enclausurados e os que ali trabalham? Para tentar responder essas perguntas, Didier Fassin realizou ao longo de quatro anos uma pesquisa de campo numa prisão francesa. Acompanhando a trajetória de homens desde seu julgamento até o encarceramento, associando-se à rotina da detenção e também aos momentos de crise, ele analisa o dia a dia da condição carcerária. Mostra como a generalização do enclausuramento reforça as desigualdades sociorraciais e como as lógicas da ordem prevalecem sobre o respeito aos direitos. Mas analisa também os gestos de solicitude e de transigência do pessoal penitenciário, os sofrimentos e as microrresistências dos detentos e o modo como a vida de dentro é permeada pela vida de fora. Assim a prisão aparece ao mesmo tempo como o reflexo da sociedade e seu espelho. É a sombra inquietante que ela projeta.