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Muitas áreas da cultura têm se proposto a falar do Antropoceno — o período vigente, em que o impacto de algumas ações humanas sobre o meio ambiente se mostrou ainda mais destrutivo, quiçá irreversível. A seu modo, cada campo do conhecimento destrincha nossos graves delitos como humanidade que se pensou superior às outras formas de vida, às outras espécies e a determinados grupos entre seus iguais. Mas é na literatura — sempre ela — que essas dores ganham corpo e contornos capazes de nos tirar da zona de conforto e nos fazer imaginar mundos possíveis, com relações e ações mais harmoniosas, horizontais e coletivas. Depois do fim reúne um time de grandes autores em ensai...
Débora Noal nos convida a olhar para fora e assim descobrir o outro que existe em nós. Ao relatar o lado B do mundo, a partir de suas experiências como psicóloga junto à organização internacional Médicos Sem Fronteiras em projetos no Haiti, na Guiné, no Congo e na Líbia, Débora nos presenteia com uma narrativa sobre seu trabalho e nos convida a refletir sobre o propósito da vida. Nesta segunda edição do seu diário de campo, com relatos do cotidiano profissional de muitos desafios e descobertas, além de reflexões significativas acerca da psiquê humana, a autora nos impulsiona a ponderar exatamente como estamos desempenhando o papel de aproximar as arestas do mundo. "Débora nega radicalmente as fronteiras, qualquer fronteira que não seja a do respeito pela dignidade da vida.O mundo inteiro é sua casa e também sua família." (Eliane Brum)
"... o coração de uma mulher não é um amontoado de farinha e manteiga que pode ser sovado pelo ego de um cara até ficar comestível." Sentada em uma rodoviária e prestes a deixar para trás toda a vida que conhece até então, Pérola, uma advogada bem-sucedida, nos convida, por meio de seu fluxo de consciência, a questionar toda a construção de quem ela era antes de chegar ali. Consumida pelos próprios pensamentos depois de ganhar um livro erótico como presente inesperado, a personagem passa a contestar a autenticidade de seu noivado, da instituição do casamento, dos próprios desejos, de sua libido e de sua sexualidade. As reflexões da personagem sobre o trabalho, as relações familiares, a vida e tudo o que gira ao redor dela nos arrebatam porque podem, facilmente, ser um espelho da nossa realidade. Afinal, o quanto o desejo de uma mulher é verdadeiramente dela e o quanto é resquício de um roteiro pré-escrito pela sociedade?
"Uma peça linda sobre amor. Criativa, honesta, inteligente e divertidíssima." —Wagner Moura Muito já foi dito sobre o amor e os relacionamentos, mas nem tudo com a graça e a sagacidade de Veronica Debom. "O abacaxi", sua estreia na dramaturgia, revela não só uma autora com ótimo repertório forjado na experiência como atriz, mas também uma leitora do mundo. A peça que você tem em mãos é a história de vários casais e de como eles [não] se relacionam. Da monogamia ao poliamor, passando por traições e pequenas crises cotidianas – ir ao clube ou à praia? –, Veronica (des)constrói, em um espaço curtíssimo, as questões mais aflitivas dos amores pós-modernos. Que a com...
Amizade sempre foi algo muito importante para mim. Na verdade, graças às minhas amigas, eu permaneço aqui, viva. Foram elas que desde sempre seguraram a minha mão. São elas que não permitem que eu sucumba diante dessa sociedade chamada patrirracialcapacitalista por Marcia Tiburi (2024). Em um texto que mescla relatos pessoais e considerações históricas importantes, Ingrid Gerolimich defende a ideia de que a amizade entre mulheres é "aquela que nos revela que o amor é muito mais do que este que sempre foi vendido para nós como o único caminho possível para a felicidade". Para revolucionar o amor: A crise do amor romântico e o poder da amizade entre mulheres é livro para presen...
O livro de Isabela Discacciati propõe uma dupla viagem que se articula no cruzamento da obra de Elena Ferrante, sobretudo sua tetralogia napolitana, inaugurada com A amiga genial, e um vasto repertório italiano presente no itinerário de suas personagens. Para isso, a autora empreende uma jornada em busca dos cenários e pessoas que, espelhados em seus livros, ajudam a compreender melhor as referências literárias de Ferrante, atravessando os universos da mitologia, da religião, da cultura popular e a própria geografia italiana. Brasileira que emigrou para a Itália, onde estudou e trabalha com turismo, arquitetura e história, Isabela também insere no texto experiências autobiográficas que dialogam com a comovente história da amizade e dos conflitos de Lila e Lenu, que conquistou leitoras e leitores em todo o mundo e fez de Elena Ferrante a autora mais celebrada da literatura italiana contemporânea. A edição conta com imagens históricas de acervos italianos.
Um corpo como uma casa assombrada, um corpo que treme, que sente um filete de zinco na garganta. Um poema como um corpo que perde as palavras, do qual as palavras caem verticais, abrindo fissuras no papel. Y é um livro no qual corpo e poema se misturam, se contaminam, roubam imagens um do outro. É assim, instaurando pontes entre territórios muito diversos – desertos, mangues, à beira de uma cama –, que este livro estende sua mão, um verso, em nossa direção.
Com uma narrativa fragmentada e não linear, este livro é o percurso de uma mãe solo e sua gravidez não planejada com quatro possibilidades de paternidade. Se o corpo materno não pertence mais ao tempo, como a narradora afirma, situa-se na encruzilhada: nascer e morrer; gozar e não gozar; ter ou não a possibilidade de recusar um filho. Mãe ou Eu também não gozei transita entre a poesia e a prosa poética, entre o fluxo de consciência e os diálogos, revelando a espera de uma criança por uma mãe solo. "Uma mulher (ou todas as mulheres) grávida da multidão". Atriz, performer e escritora, Letícia Bassit estreia na literatura com este livro, reeditado pela Claraboia. É um relato pungente e político – e, ao mesmo tempo, vulnerável e revolucionário – de uma mulher que gesta e pare sem romantismos e idealizações.
Apanhadora de pássaros é um livro surpreendente sobre a ambivalente amizade entre duas mulheres negras. Nele, Gayl Jones tece reflexões necessárias sobre criatividade feminina, papéis de gênero e as vicissitudes da natureza humana. Ambientada sobretudo em Ibiza, com passagens que têm como cenário os Estados Unidos, o Brasil e Madagascar, a história é narrada por Amanda Wordlaw, escritora que acompanha o casal Catherine e Ernest Shuger em suas andanças pelo mundo. Sua missão ao lado deles, assim acredita, é impedir que a talentosa escultora Catherine mate o afetuoso marido Ernest. Catherine é repetidamente internada por tentar pôr fim à vida de Ernest, que ainda assim não a abandona. A narração de Amanda transita entre o tempo em Ibiza e os anos anteriores a isso, apresentados ao leitor como um intrigante quebra-cabeça. Mas o que mantém, Amanda questiona a si mesma e ao leitor, o trio tão unido? A partir desse vínculo bastante peculiar, o leitor tem acesso à escrita inventiva e viciante de Jones.
"A psicanálise, que descobriu o segredo do sintoma humano, pode descobrir também, como os romancistas realistas, que toda ordem cultural gira sobre um segredo próprio, um sintoma específico, um sonho a ser interpretado. Trata-se, de meu ponto de vista, do segredo da estrutura social, que não se revela diretamente na sua realização evidente, mas só através de uma mediação que o dissolva e simbolize, desembaraçando-o das artimanhas de dominação e tornando-o pensável. Assim, o segredo próprio ao sintoma humano repousa sobre o segredo geral de sua cultura, e a ordem dos dois é a mesma que a dos sonhos." (Tales Ab'Sáber) Em fragmentos de sua própria experiência na clínica, onde tudo tem início e fim em psicanálise, Ab'Sáber nos apresenta um mergulho profundo e desafiador na trama simbólica e concreta do mundo na determinação das formas de sofrimento psíquico atuais.